A Divinização do Mal e a Demonização do Bem – 3

Este é o terceiro artigo de uma série que, até aqui, se limita a três artigos.

No último parágrafo da segunda parte deste artigo, que agora passa a ter três partes, disse que em artigos futuros discutiria outros tópicos contidos no livro de Kupelian – e, quem sabe, voltaria a este tópico.

Resolvi, antes de discutir outros tópicos contidos no livro, complementar os artigos anteriores com algumas indicações bibliográficas complementares.

No primeiro artigo, foi mencionado o livro

After the Ball: How America Will Conquer its Fear and Hatred of Gays, escrito por Marshall Kirk e Hunter Madsen (Doubleday, New York, 1989), que foi o livro, escrito por dois pesos pesados da área de “marketing social e táticas de persuasão pública”, que detalhou a estratégia a ser seguida pela sociedade americana para que esta vencesse o “medo” e o “ódio” que sentia para com os gays (na opinião dos autores). Esse livro tem 28 anos. Só esse já fato mostra que quem se dispõe a promover mudanças profundas na sociedade tem de agir tendo em vista o longo prazo.

Em 2015 Daniel Runyon publicou uma resenha de After the Ball que acabou se tornando um pequeno livro de 80 páginas: Gay Marriage Considerations: A Review of “After the Ball” (Saltbox Press, Spring Arbor, MI, 2015). A justificativa para uma resenha-livro foi encontrada no fato de que, em um pouco mais de duas décadas, o comportamento homossexual se transformou, nos Estados Unidos, de uma “ofensa criminal” em um “direito protegido” – chegando ao ponto de, quando a  resenha-livro foi escrita, a Suprema Corte americana estar a ponto de tornar o casamento de homossexuais parte da lei do país (como de fato o fez). Diante dessa mudança, o autor se dispôs a analisar o livro que deu aos homossexuais a “tração” de que eles necessitavam para promover sua revolução.

Note-se (como de resto mostrado na primeira parte do artigo) que a estratégia Kirk & Madsen não é apenas fazer com que a maioria da população americana (mas o princípio se aplica universalmente, não só aos americanos) “perca o medo” dos gays e “deixe de odiá-los” – medo e ódio que os autores de After the Ball não têm dúvida que existem na maioria da população. A estratégia vai adiante: é conseguir que o comportamento homossexual seja considerado natural e normal, bem aceito, charmoso, e até mesmo “superior” (em termos de algumas vantagens práticas) ao comportamento heterossexual, mesmo que, para tanto, tenham de esconder dados, interpretar dados de forma tendenciosa, e até mesmo mentir e enganar.

Mas a estratégia vai ainda além: trata-se de “acuar” e colocar na defensiva quem quer que seja que discorde da tese defendida – ainda que a discordância seja meramente verbal e intelectual, e totalmente desacompanhada de oposição ativa e militante. Uma pessoa, ainda que simples, que ouse dizer que discorda de que o comportamento gay seja natural, certo, normal, e que ouse afirmar que prefere que seus filhos não sejam gays, pode vir a ser acusada de preconceito e homofobia e corre até o risco de ser processada e ter de se defender em juizo. Um padre, um pastor, ou um rabino, que afirme do púlpito que a Bíblia (o Velho Testamento, no caso do rabino) condena a homossexualidade, também pode vir a ser acusado de preconceito e homofobia e corre até o risco de ser processado e ter de se defender em juizo, ainda que também diga que, apesar disso, homossexuais devem ser bem aceitos pelas comunidades que pastoreiam.

Por causa dos riscos de processos que comunidades religiosas e seus líderes podem sofrer, o site americano http://adflegal.org vem distribuindo gratuitamente um livreto em .pdf com o título Protecting Your Ministry From Sexual Orientation, Gender Identity Lawsuits: A Legal Guide for Churches, Christian Schools, and Christian Ministries (publicado pela Alliance for Defending Freedom – ADF).

Esse livreto tem como mote um trecho do parecer (derrotado) do juiz da Suprema Corte americana Samuel Alito no caso Obergefell v. Hodges:

“Presumo que aqueles que se apegam às crenças tradicionais serão capazes de sussurrar seus pontos de vista na intimidade de suas casas, mas se os expressarem em público, correm o risco de vir a ser rotulados como fanáticos e de vir a ser tratados como tais pelos governos, pelos seus empregadores e pelas escolas”.

Segundo o CDC – Centers for Disease Control, que não pode ser considerado uma organização conservadora, apenas 1,5% da população americana é homossexual (dado retirado de uma resenha do livro de Runyon na Amazon). No entanto, na mídia (TV, cinema, jornais) o número de pessoas, casais e famílias homossexuais é totalmente desproporcional a esse percentual. Para o Brasil não tenho estatísticas, mas que a presença de pessoas, casais e famílias homossexuais na mídia, em especial na TV (em novelas, por exemplo, ultimamente), é desproporcional, sugere-se de imediato. Não bastou que aparecessem casais homossexuais nas novelas e séries da Globo: eles precisaram expressar carinho fisicamente um ao outro, beijar-se, e até participar de cenas em que evidentemente faziam sexo (all the way), como na minissérie sobre Tiradentes. Além disso eles foram representados por atores de primeira linha, como Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, Mateus Solano e Thiago Fragoso. No plano familiar, tramas em que figuram crianças com dois pais e nenhuma mãe, ou duas mães e nenhum pai, começam a se tornar mais frequentes.

Nos Estados Unidos a “luta” avança mais rapidamente do que no Brasil – o que é um indicador do que ainda está para acontecer no Brasil. Lá organizadores de eventos, fotógrafos, pessoas ou empresas que fazem bolos e doces, cozinheiros e assemelhados, floristas, gráficas, etc. que se recusam, por razões morais ou religiosas, a participar, com seus produtos e serviços, de casamentos homossexuais, têm sido processados e obrigados a se defender na Justiça da acusação de discriminação injustificada, quando não preconceito e fanatismo.

O livro After the Ball busca induzir os leitores a aceitar a analogia (segundo a resenha de Runyon) que ser gay é basicamente análogo a ser canhoto, exceto pelo fato de que, no primeiro caso há medo e ódio envolvido, no segundo, não. E pergunta o que fariam os canhotos, que seriam 10% da população (sugerindo que os gays também seriam 10% e não 1,5% — não que o fato seja relevante para a argumentação), se viessem a ser detestados, perseguidos, agredidos, assassinados, etc., sem a menor referência ao fato de que, no caso do homossexualismo, há basicamente duas questões sérias envolvidas: a questão da natureza e a questão da moralidade – e uma tem relação com a outra. Não é preciso ser um Católico Romano tradicionalista, influenciado pela teologia aristotélica de Tomás de Aquino, que considera que o sexo existe apenas para a procriação, que o controle da natalidade é antinatural,  e que até a masturbação é uma depravação, para reconhecer que a questão sexual (embora tenha componentes socioculturais) tem componentes naturais. Afinal, a espécie humana (com boa parte de outras espécies animais) é sexuada, tem órgãos sexuais, masculinos ou femininos, e, portanto, se divide, naturalmente, em macho e fêmea. A reprodução humana não acontece sem o concurso de um homem e uma mulher. Embora, hoje, essa reprodução possa se dar in vitro, ela não dispensa o uso de um óvulo e um espermatozoide, fornecido, especificamente, por uma mulher e um homem. Socialmente, se os relacionamentos afetivos se tornarem prioritariamente homossexuais, sem que seja inventada uma forma totalmente artificial de reprodução, haverá problemas sérios para a preservação da espécie humana. Só isso já mostra que, independentemente de outras considerações acerca da natureza humana, e de considerações morais, o comportamento homossexual não pode ser apresentado como natural, muito menos como superior ao comportamento heterossexual.

O contido no parágrafo anterior já mostra que há duas linhas de combate para quem quiser se opor aos argumentos de After the Ball: uma que lida com a questão da natureza humana e outra que lida com a questão da moralidade. A primeira tem de combater a tese de que a natureza humana não existe como fato, sendo apenas uma construção social. A segunda tem de combater o relativismo que destrói o significado das categorias morais, do certo e errado moral, do bem e mal moral, etc.

Um livro que merece ser consultado nesse contexto é Absolute Relativism: The New Dictatorship and What To Do About It, de Chris Stefanick (Catholic Answers Press, San Diego, 2011). Ali o autor se propõe a defender, entre outras, a tese de que “discordar de um determinado comportamento, e falar contra ele, não é a mesma coisa que ser intolerante. Punir alguém que não admite aprovar ou endossar determinado comportamento, ameaça-lo de usar a força para obriga-lo a agir contra a sua consciência, e tentar usar todos os meios possíveis para impedir que ele possa expressar seu ponto de vista em público, isto sim é ser intolerante” (Posições 410-412, na edição Kindle).

É nesse aspecto que se chega à “nova ditadura”.

Outro livro que merece leitura é Making Gay Okay: How Rationalizing Homosexual Behavior Is Changing Everything, de Robert Reilly (Ignatius Press, San Francisco, 2014). Se o livro anterior trata mais da questão da moralidade, este trata mais da questão da natureza.

Por ora é só. Sou filósofo – e um filósofo liberal que defende o liberalismo clássico, laissez faire, que defende as liberdades e os direitos individuais – dos quais o mais central é o direito à expressão do que eu penso, do que eu acho, do que eu acho certo e do que eu acho errado, sem ser assediado, ameaçado ou (até mesmo) punido por causa de minhas opiniões. Que isso hoje pareça uma utopia é evidência de que a nova ditadura já está conosco por algum tempo – e foi colocada como se fosse, ela, uma ditadura, uma defesa de liberdades e direitos.

Isso é o que mais me irrita. É uma tentativa sem antecedentes de enganar o povo.

Em Salto, 8 de Abril de 2017.

A Divinização do Mal e a Demonização do Bem – 2

No artigo anterior falei em tese e de modo genérico sobre a questão. Neste vou tratar de um caso específico discutido no livro The Marketing of Evil: o da homossexualidade. Mas não me limitarei ao uso desse livro. Farei referência a outros.

A transformação da homossexualidade de vício em virtude (categorias morais) e de crime em direito (categorias legais) atravessou três fases, de todos conhecidas e, no momento, o movimento gay e seus companheiros de viagem tentam introduzir uma quarta fase. A seguir apresento resumidamente essas três fases em grande medida já atravessadas (e em grande parte vencidas) pelo estabelecimento homossexual e discuto sumariamente o que me parece ser a pretendida e buscada quarta fase.

A. Primeira Fase

Nesta primeira fase, o protagonismo é dos heterossexuais: são eles que ditam a pauta. E eles veem a homossexualidade como algo moralmente errado. Ponto final. Os heterossexuais não religiosos veem o relacionamento sexual entre pessoas do mesmo sexo como algo não-natural, desviante, anormal mesmo, enquanto os religiosos o veem como algo pecaminoso, e, no caso dos cristãos, como um pecado explícita e severamente condenado na Bíblia.

Para ser considerada como moralmente errada, pecaminosa, etc. a homossexualidade precisa ser vista como algo que é objeto de LIVRE ESCOLHA – uma escolha em regra considerada errada e odienta pelos não homossexuais. Dentro dessa visão, os homossexuais poderiam muito bem escolher (como os demais) a heterossexualidade, mas optam por não fazê-lo em decorrência de algum tipo de torpeza moral: devem, portanto, ser punidos por sua imoralidade.

A consequência desse ponto de vista é que os homossexuais são frequentemente discriminados, perseguidos, agredidos, até mesmo assassinados, e, em alguns contextos, oficialmente presos e condenados à morte em países ou estados que consideram a homossexualidade um crime, além de uma ofensa moral (e ainda os há – A Cuba comunista foi [?] um desses países).

Esta é a fase que poderia ser descrita como A FASE DO ÓDIO E DA INTOLERÂNCIA AO GAY. Ela prevaleceu no Ocidente até por volta do segundo quarto do Século 20. Em outros locais, como em países comunistas (basta lembrar Cuba, como mencionei no parágrafo anterior) e em países muçulmanos, ela continuou até bem mais recentemente, não estando de todo ultrapassada até hoje.

B. Segunda Fase

Esta fase é introduzida de certo modo pelo aparecimento da AIDS, conhecida por muitos como “a peste gay”. Embora alguns heterossexuais religiosos tenham visto a AIDS como castigo divino aos gays pelo que lhes parecia ser a escolha odienta da homossexualidade, outros heterossexuais, religiosos ou não, começaram a mudar a sua forma de ver a homossexualidade, passando a vê-la mais como DESTINO ou PREDESTINAÇÃO do que como escolha. Na realidade, muitos homossexuais começaram a enfatizar que nasceram gays, não escolhendo esse estilo de vida. Cientistas começaram até mesmo a especular se haveria um gene gay, isto é, um gene responsável pela orientação sexual.

Em decorrência disso, e em especial com o aparecimento da AIDS, o ódio aos gays foi gradualmente cedendo lugar a uma certa pena e a um certo grau de solidariedade (como se ninguém merecesse esse tipo de destino), e os próprios homossexuais começaram a se ver, conscientemente ou não, mais como “vítimas” do destino, ou como objetos de acontecimentos que não dependeram de sua escolha (a palavra “vítima” antigamente era complicada) do que como objetos de ódio. Esta é a fase que poderia ser descrita como A FASE DA SOLIDARIEDADE E DA TOLERÂNCIA AO GAY. O protagonismo aqui é, em grande medida, dos heterossexuais: são eles que definem a pauta.

É verdade que alguns heterossexuais limitaram a sua solidariedade e tolerância à não perseguição e discriminação dos gays – sem deixar de considerar a orientação homossexual um erro moral dos próprios gays ou, se fosse determinada por fatores genéticos, um desvio da normalidade – um erro da natureza.

Essa fase prevalece ainda hoje, embora em alguns círculos já tenha sido sucedida pela terceira fase.

C. Terceira Fase

Na terceira fase o protagonismo passa para os próprios gays, que resolveram a definir, de forma abrangente, quase total, a própria pauta – e o fazem de forma radical e por vezes até desnecessariamente agressiva. Poderíamos chamar esta fase de A FASE DO ORGULHO E DO ATIVISMO GAY.

Esta fase tem raízes bem delimitadas no tempo: a publicação do livro After the Ball: How America Will Conquer its Fear and Hatred of Gays, escrito por Marshall Kirk e Hunter Madsen (Doubleday. New York, 1989). Os autores eram “da pesada”. Kirk, um graduado de Harvard, era, além de poeta e lógico nas horas vagas, um especialista em neuropsiquiatria, que trabalhava num centro da Universidade Johns Hopkins destinado a estudar “jovens matematicamente precoces”. Kirk projetava testes para adultos com QI de 200 para cima (ou seja, gênios). Madsen tinha um doutorado em política de Harvard e se especializou, nada mais, nada menos, em “marketing social e táticas de persuasão pública”.

Esse livro é o marco que assinala a reviravolta que pode ser chamada de Revolução Gay. De odiados, perseguidos, ou, na melhor das hipóteses, tolerados com dificuldade, os homossexuais passaram a comandar a agenda da discussão da sexualidade, introduziram a discussão da chamada política de gênero na sociedade americana (e, em seguida, mundial), e conseguiram se colocar, ao lado das mulheres, dos negros, e dos pobres, como uma das “quatro minorias” que estariam a requerer “políticas afirmativas” decisivas para alcançar igualdade social e política, quando não econômica, com os “homens, brancos, ricos e heterossexuais” que supostamente comandavam a vida social, política e econômica americana. (Na área artística e cultural os homossexuais já vinham se saindo bastante bem). Vista pelos olhos da sociedade americana majoritária, sugeria-se, ser, nos Estados Unidos, uma mulher, negra, pobre e gay, o cúmulo da desgraça.

O livro de Kirk & Madsen é uma das maiores e melhores evidências de que se vale David Kupelian, autor de The Marketing of Evil, livro introduzido no artigo anterior, para provar sua tese de que a inversão entre o bem e o mal de que falei no artigo anterior, não aconteceu por acaso, nem por simples processo de imitação natural de uns por outros. Segundo ele, ela é decorrente de processos conscientes e deliberados de marketing cuidadosamente planejados e executados para acabar com o que era o grande bastião da civilização cristã, o Ocidente (ou, como disse atrás, para acabar com o que era o grande bastião da civilização ocidental, o Cristianismo).

Eis o que dizem Kirk & Madsen bem no início de seu livro:

“Pode parecer cinismo afirmar isso, mas a epidemia de AIDS nos oferece uma oportunidade, embora ela possa vir a ser de curta duração, de nos estabelecer como uma minoria vitimizada nos Estados Unidos, minoria essa que estaria a merecer da América proteção e cuidados especiais. . . . É verdade que essa epidemia também vem gerando histeria de massa precisamente do tipo que, no passado, na Idade Média, e antes, produziu apedrejamentos públicos e isolamento em colônias de leprosos.  . . .  O desafio é: Como maximizar a simpatia e minimizar o medo do povo americano? Como, com cartas horríveis como as que a AIDS nos deu, conseguir fazer o melhor jogo e sair triunfantes? . . . A campanha que esboçamos neste livro, embora complexa, depende, centralmente, de um programa desavergonhado de propaganda, baseado firmemente nos princípios há muito tempo estabelecidos na área da psicologia social e dos anúncios comerciais” [Apud Kupelian, op. cit., cap. 1: “Marketing Blitz: Selling ‘Gay Rights’ to America”; ênfases acrescentadas] .

O livro que Kirk & Madsen escreveram foi, por sua vez, produto de uma conferência chamada “Esforço de Guerra” realizada em Warrenton, VA, por cerca de 175 ativistas em papel de liderança em diversos grupos e associações de homossexuais, convocada para mapear o futuro “do movimento”. O livro, que se propunha quebrar a resistência aos homossexuais por parte da sociedade americana, mostrava como efetivamente “vender ‘direitos dos gays’ para a América”, assim “forçando a aceitação da cultura homossexual no próprio cerne da sociedade americana, silenciando a oposição, e, em última instância, convertendo o povo americano à causa gay” [Apud Kupelian, op. cit., cap. 1: “Marketing Blitz: Selling ‘Gay Rights’ to America”].

Parte do que o livro propunha que fosse feito é a criação de uma “novilíngua” nos termos daquela discutida por George Orwell em 1984. Em primeiro lugar, o movimento deveria ser sempre designado como a favor de “gay rights”  (direitos dos gays), porque a palavra “gay”, que também significa “alegre” e “feliz”, é preferível ao termo “homossexual”, que induz as pessoas a visualizar o controvertido comportamento sexual que se pretende que a sociedade americana considere aceitável e normal. Além disso, a causa dos gays deveria ser colocada, como na frase “gay rights”, sempre em termos de “direitos”, deixando evidente que direitos são negados aos homossexuais que os demais membros da sociedade desfrutam livremente.

Os autores tinham clareza de que não bastava que eles, os homossexuais, designassem sua causa como sendo de “gays rights”. Era preciso também conseguir que a mídia passasse a descrevê-la assim e que os políticos passassem a se referir a ela nesses termos quando viessem a debater qualquer questão relevante a ela. Eles sabiam muito bem, que numa guerra de relações públicas, aquele que define os termos em que o debate será conduzido já ganhou metade da luta. O movimento a favor do aborto foi bem sucedido nos EUA porque desde o início definiu que o debate não era sobre aborto (que sugere assassinar um ser humano indefeso), mas, sim, sobre o direito de escolha, isto é, o direito da mulher de fazer escolhas sobre o que se passa com seu próprio corpo.

Assim, usando a expressão “gay rights” para definir a sua causa, e persuadindo (às vezes até através de intimidação) a mídia e os políticos a fazerem o mesmo, Kirk & Madsen conseguiram definir os termos do debate e já sair na frente antes mesmo do debate ter tido início efetivo.

Mesmo assim, o que dizer para a América conservadora que traz consigo números que indicam que há homossexuais que já tiveram, ao longo de sua vida, mais de 500 parceiros, conforme sua própria admissão, e que se envolvem em práticas sexuais que enrubesceriam gente bem acostumada às práticas sexuais da sociedade americana? A resposta de Kirk & Madsen é: Não falem nada; simplesmente ignorem a questão se ela for proposta, apresentem uma face e uma postura inalterada, sorriam e continuem a falar sobre o que lhes interessa falar. (Algo parecido com a atitude que, nos bons tempos, o Maluf exibia quando um repórter lhe fazia uma pergunta sobre corrupção; hoje Lula e os petralhas tentam mudar os termos do debate público, tentando argumentar que também são vítimas — no caso, da direita.)

Os resultados desse “esforço de guerra” nós todos conhecemos e é desnecessário discuti-lo em detalhe. Aqui no Brasil esses resultados estão na “Cartilha Gay” do ex-Ministro Haddad do PT, nos materiais acerca de educação sexual e políticas de gênero, nas  tentativas de reescrever a literatura infantil (como As Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato), no projeto de lei sobre homofobia, no proposta de aceitação do casamento gay, a pressão para os casais e os beijos gays nas novelas e nos filmes, etc.

Antes de passar à quarta fase, é bom resumir que, na terceira, tentou-se conseguir, e em grande medida se conseguiu, que a sociedade, aceitasse “gay” como normal. Na mídia não se exibem casais de homossexuais masculinos praticando sexo com totais estranhos em banheiros públicos, mas, sim, um casal de duas velhinhas que moram juntas há 30 anos e agora puderam se casar, um casal de senhores de classe média alta que conseguiu adotar um menino e uma menina lindos, charmosos e idolatrados astros de cinema e televisão, etc. O objetivo é mostrar que a orientação sexual de uma pessoa, seja lá qual for, não a torna anormal ou desviante, um ponto fora da curva de sino, mas que gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, etc. são “gente como a gente”, para que a perseguição e a intolerância se tornem definitivamente assuntos do passado, para que se vá além da mera tolerância, para uma solidariedade ativa, uma defesa dos “gays rights”, que envolve o combate a todo mundo que ainda persiste achar que, afinal de contas, é esquisito homem transar com homem e mulher com mulher…

Passemos à quarta fase.

D. Quarta Fase

Se, na terceira fase, o objetivo era mostrar que a orientação sexual gay não tornava ninguém anormal e desviante, na quarta fase a agenda é mostrar que a homossexualidade é uma orientação sexual preferível à orientação tradicional, heterossexual.

Materiais didáticos denunciados na mídia mostram tentativas de persuadir crianças e adolescentes de que, se eles são bissexuais, suas possibilidades de arranjar parceiros de namoro ou de sexo simplesmente dobram, eles não têm por que se preocupar com gravidez indesejada, etc.

A tática, como sempre, é esconder o que é ruim e feio, fazer cara bonita e apresentar apenas aquilo que parece bonito e atraente.

Em artigo futuro discutirei outros tópicos contidos no livro de Kupelian – e, quem sabe, voltar a este tópico.

Em Salto, 28 de Dezembro de 2015, levemente revisado, ainda em Salto, em 8 de Abril de 2017.

A Divinização do Mal e a Demonização do Bem – 1

A. O Bem e  o Mal na Esfera Moral

Filósofos, hoje em dia, raramente são moralistas, isto é, defendem ou criticam valores morais, enquanto tais. Mais frequentemente, estão interessados na análise do discurso moral, em descobrir por que, ou com base em que, consideramos alguns comportamentos (ou até mesmo alguns pensamentos) moralmente errados e outros moralmente certos (e outros como nem uma coisa nem outra, ou, o que seria a mesma coisa, como moralmente irrelevantes).

Falar com os outros com a boca cheia de comida, ou comer usando competentemente vários talheres são questões geralmente consideradas moralmente irrelevantes – mesmo que socialmente condenáveis ou louváveis em determinados contextos. Trata-se, neste caso, mais de costume e etiqueta do que de moralidade.

Causar dor física em outra pessoa, sem motivação relevante que justifique o fato, é um comportamento geralmente considerado moralmente errado e moralmente condenável. O farmacêutico que dá uma injeção em uma criança lhe causa dor física, mas ele o faz por motivação relevante que justifica seu ato – razão pela qual não o condenamos moralmente. A mesma coisa se aplica ao cirurgião que corta a barriga ou abre o peito ou mesmo o crânio de um paciente. (Em relação a operações cesareanas sem justificativa fundamentada na conservação da saúde ou mesmo preservação da vida da mulher, mas decorrente apenas de conveniência ou preferência, seja da mulher, seja do cirurgião, a questão pode ser diferente — digo “pode ser”).

A situação é um pouco mais confusa no caso de causar dor emocional a outra pessoa, em especial através da linguagem. Chamar alguém de burro ou incompetente, ou mesmo de gordo ou feio, machuca – mesmo que o machucado não deixe evidências fisicamente visíveis. Contar piadas étnicas (sobre portugueses, baianos, gaúchos, campineiros, etc.) é algo que frequentemente machuca os representantes dessas etnias ou regiões. Ferir a sensibilidade alheia através de nossa linguagem, machucar os outros pela nossa fala, é isso moralmente errado? A dor física e a dor emocional se equivalem no contexto moral?

Fazer o bem, ou ajudar a quem está em necessidade, ou porque foi vítima de um assalto ou acidente, ou porque caiu doente, ou porque perdeu o emprego, ou porque, mesmo sem ter perdido o emprego, ganha muito pouco, é geralmente considerado moralmente certo – e portanto, a menos que haja boas razões em contrário, é comportamento considerado moralmente obrigatório.

Mas fazer bem a mim mesmo, à minha saúde, não bebendo bebida alcoólica, não fumando, não tomando drogas, não comendo alimentos não saudáveis, fazendo exercícios, etc. – é esse tipo de comportamento moralmente obrigatório? Não fazer essas coisas é moralmente censurável, por mim em relação aos outros e pelos outros em relação a mim?

As situações mencionadas nos último e no (sic) antepenúltimo parágrafo parecem mais difíceis de tratar moralmente do que as situações mencionadas nos parágrafos que antecedem a eles porque no último e no antepenúltimo parágrafo entra em questão a liberdade: a minha liberdade de expressão, no antepenúltimo parágrafo, e a minha liberdade de viver como me apraz, no último. A liberdade é considerada, por muita gente, um bem moral em si mesma – na verdade, sem ela (que faz parte do conceito de “livre arbítrio”) parece não ser possível falar em moralidade. Para a maior parte das pessoas, uma moralidade compulsória, em que sou fisicamente (ou, talvez, emocionalmente) impedido ou restringido de fazer o mal e incentivado ou compelido a fazer o bem, parece ser uma contradição de termos. A moralidade parece pressupor a nossa liberdade, a nossa possibilidade de escolher e decidir (mesmo que errado).

Faz tempo que reflito sobre essas coisas – apenas a minha vida adulta inteira, isto é, mais de cinquenta anos. Há dias venho escrevendo um artigo mais longo sobre o assunto. Mas hoje resolvi escrever o resumo contido neste parágrafo como preâmbulo para uma outra discussão: a do “Marketing do Mal” e do “Marketing do Bem“.

B. O Bem e o Mal “Dados” e Absolutos

Tradicionalmente, a tendência foi considerar o bem e o mal, na esfera moral, como coisas dadas. Alguns comportamentos (ou mesmo pensamentos) são moralmente certos e outros, moralmente errados, bons ou maus, de forma final e absoluta.

No Judaísmo, por exemplo, o bem e o mal são definidos, na esfera moral, pelo que Deus determina que deve ser feito e deve ser evitado. Honrar pai e mãe é um bem moral,  guardar o Sábado é um bem moral. Por isso, é obrigatório fazer essas duas coisas. Por outro lado, matar, roubar, mentir (dar falso testemunho), cometer adultério são males morais. Por isso, é proibido fazer (isto é, obrigatório não fazer) essas coisas. Interessante que cobiçar coisas alheias também é um mal moral, embora cobiçar não seja uma ação física que se realize no espaço e seja visível a todos, mas é uma “ação mental”, por assim dizer, um pensamento misturado com sentimento, algo como desejar para si aquilo que é do outro.

Fica a impressão de que, para o Judaísmo Bíblico, essas ações são moralmente certas ou moralmente erradas exatamente por serem ordenadas ou proibidas por Deus. Parece que, para o judeu do tempo bíblico, alguém age de forma moralmente errada (apenas) porque Deus proibiu essa forma de ação – em outras palavras, estas retiradas da Filosofia Medieval: mala quia prohibita – algo é considerado moralmente errado porque foi proibido (por autoridade que tem poder para fazer valer sua vontade, no caso Deus). Mas por que Deus proibiu essas coisas e não outras? A resposta apelava pela liberdade e soberania de Deus — pelo poder e pela autoridade de Deus, por ser o criador do universo e, dentro dele, do homem. Deus proibiu porque proibiu, proibiu porque assim houve por bem, proibiu, enfim, porque quis.

Boa parte dos filósofos gregos e romanos, e um número significativo de filósofos do fim da Idade Média, se recusaram a aceitar essa doutrina. Para eles, a tese filosófica que deve ser aceita é a de que prohibita quia mala – algo é proibido (até mesmo por Deus) porque é errado. Isto significa que existe uma lei moral que é inerente na natureza das coisas (jus naturalis), à qual até mesmo Deus está sujeito, que determina o que é certo e o que é errado do ponto de vista moral, e é por essa lei que nós (e até mesmo Deus) devemos orientar nossas ações. Temos acesso à lei natural através de nossa razão – o nosso mais confiável instrumento de cognição (inclusive na área moral).

O importante é que, em ambas as doutrinas, o bem e o mal morais são finais e absolutos, não são relativos ao que sentimos, ou ao que queremos alcançar ou produzir, ou ao que de fato produzimos. No primeiro caso, o ser humano fica esperando que Deus decida, mas uma vez que ele o faça, a coisa está decidida, irrespectivamente de contextos e circunstâncias. No segundo caso, o ser humano precisa tomar a iniciativa, refletir, investigar e buscar conhecer, através de sua razão, o que é certo e o que é errado. Mas uma vez que o faça, e que sua busca seja bem sucedida, a coisa também está decidida para agora e para sempre – na verdade, até para o passado.

Em ambos os casos, não se tem dúvida de que algumas das nossas ações são moralmente corretas e outras, moralmente erradas; as primeiras são moralmente obrigatórias, as outras, moralmente proibidas. E isso é descoberto, ou pesquisando aquilo que se acredita ser a palavra revelada de Deus, ou utilizando nossa razão, refletindo, argumentando consigo mesmo, por assim dizer.

O certo e o errado morais são, nesses dois casos, objetivos e absolutos, não variando conforme contextos e circunstâncias. Eles nos são “dados”, ou pela revelação divina ou pela razão humana.

Nesses dois casos, o que é moralmente certo não deixa de ser moralmente certo com a passagem do tempo ou com mudança do espaço (literal ou figurado, mudando-se de uma cultura para outra) – e muito menos se torna moralmente errado por causa disso. E o mesmo se aplica, mutatis mutandis, ao que é moralmente errado.

C. O Bem e o Mal “Construídos” e Relativos

Sempre houve, em especial a partir do Renascimento do Século 15, mas mais especialmente ainda a partir do Iluminismo do Século 18, quem rejeitasse essa visão absolutista da moralidade (embora Kant, no apagar das Luzes do Iluminismo, talvez seja o maior absolutista racionalista que já existiu – a propósito, quem apagou as luzes do Iluminismo foi aquele neurótico chamado Jean-Jacques, normalmente conhecido como Rousseau).

Durante os Séculos 17 e 18, filósofos como Shaftesbury, Hutcheson e Hume procuraram construir uma nova base para a moralidade, abandonando tanto a revelação divina como a razão humana. Essa nova base foi o sentimento, que é dirigido por um senso moral (uma consciência?) enraizado em nossa natureza. Embora todos eles acreditassem que existe algo que poderia ser chamado de natureza humana, e que essa natureza humana seja razoavelmente uniforme, fato que redundaria em sentimentos humanos razoavelmente uniformes, naquilo que é essencial, nos diversos tempos e locais, eles três eram suficientemente sofisticados para reconhecer que a distinção entre aquilo que é essencial e aquilo que é acessório, entre sentimentos morais (essenciais) e sentimentos calcados em meros gostos e preferências oriundos de criação e costumes e não da natureza humana (acessórios), é problemática e difícil de defender na prática.

O salto sobre esses “sentimentos naturais” que fluem de uma natureza humana razoavelmente uniforme para a tese de que todos os sentimentos são fruto do ambiente, da criação, dos costumes, e, portanto, relativos aos diversos tempos e locais em que surgem, não custou a acontecer. Na verdade, antes de Hume, Locke já defendera a tese de que somos, ao nascer, tabulae rasae, folhas de papel em branco em que o ambiente escreve o que acha mais conveniente.

Assim, valores morais, que, antes, eram vistos como “dados”, por Deus, ou pela razão, ou pela natureza humana, passaram a ser vistos como “construídos” pela sociedade, ou seja, por nós mesmos. Sendo construção nossa, são relativos aos tempos e locais em que vivemos, aos nossos interesses e desejos, etc. – e nada têm de absolutos, podendo ser alterados ad libitum – à vontade. São frutos de nossos gostos e preferências – e gostos não se discutem (de gustibus non disputandum est).

O resultado dessa mudança pode se ver em Bertrand Russell, considerado por muitos o Hume do Século 20, que, uma vez, no final da vida, quando indagado (como o grande moralista que supostamente era) o que realmente havia de errado naquilo que Hitler fez na Europa, disse que, por mais que tentasse encontrar algo de objetivamente errado nas ações de Hitler, só conseguiu concluir que achava que as ações de Hitler eram por ele consideradas moralmente erradas simplesmente porque ele, Russell, não gostava daquilo que Hitler fizera.

Se você acha que Russell é o “fim da picada”, você não viu nada ainda. Espere pela seção seguinte. Os gostos de Russell, pelo menos a maioria dos que ele revelava publicamente, não eram muito distantes dos gostos da maioria das pessoas do Ocidente – apesar de Russell ser ateu, defensor do amor livre, etc. e de ter combatido fortemente a Igreja Cristã (e sido combatido fortemente por ela).

D. A Inversão do Bem e do Mal

Estou lendo agora (entre dois outros) um livro (The Marketing of Evil, de David Kupelian) que discute como, em 50 anos (de meados dos anos 60 para cá), várias ações que eram tidas como vícios nossa sociedade (consideradas moralmente erradas ou pecaminosas, conforme fosse o avaliante secular ou religioso), se tornaram (ou, pelo menos, assim parece) virtudes (ou, no mínimo, deixaram de ser vistas como moralmente erradas ou pecaminosas), a saber (numa lista longe de ser exaustiva):

  • manter relações sexuais ou conviver maritalmente com pessoas adultas do mesmo sexo
  • manter relações sexuais (ainda que heterossexuais) antes e mesmo fora do casamento, até mesmo em idade bem precoce (em plena adolescência)
  • engravidar e engravidar-se fora do casamento e assumir o cuidado dos filhos isoladamente, sem a ajuda de um parceiro
  • divorciar-se sem necessidade de fornecer “causa legítima” além do “desamor” (“divorce on demand”), e fazer isso em série
  • viver junto em “concubinato” ou “companheirismo”, isto é, sem estar legalmente casado
  • falar palavrão em público (mesmo no rádio e na TV)
  • discorrer publicamente sobre a vida privada (especialmente em seus aspectos sexuais ou mais íntimos)
  • exibir nível considerável de nudez em público, fora de praias e piscinas

Note-se que nem sequer falei em homosexualidade, aborto e eutanásia.

Por outro lado, e o livro de Kupelian não cobre essa categoria, há uma série de comportamentos que não eram censurados tradicionalmente e passaram a ser vistos como falhas morais ou “pecados de primeira ordem” (ou, pelo menos, como algo “muito careta”, social e moralmente), como, por exemplo:

  • fumar (não só socialmente, mas até mesmo na privacidade dos próprios aposentos)
  • comer comida gostosa mas não muito sadia
  • ser sedentário (não gostar de andar, fazer exercícios, praticar ginástica, etc.)
  • beber pouca água
  • contar piada étnica (português, baiano, gaúcho)
  • usar linguagem politicamente incorreta
  • praticar ou defender a virgindade antes e a abstinência fora do casamento
  • desperdiçar água, não contribuir para a reciclagem do lixo, não dar sua parcela à preservação do ambiente
  • tratar animais domésticos como se fossem animais (que é como eles eram considerados antigamente)

Segundo o autor do livro (que, repito, não discute essa segunda categoria), essas mudanças por ele discutidas (todas da primeira categoria) representam uma verdadeira “inversão” de nossa moralidade pública, que ficou, por assim dizer, “de ponta cabeça”. O mais original da tese de Kupelian é que, na opinião dele, essa inversão não aconteceu por acaso, nem por simples processo de imitação natural de uns por outros. Tudo isso, afirma ele, é decorrência de processos de marketing cuidadosamente planejados e executados para acabar com o que era o grande bastião da civilização cristã, o Ocidente — para acabar com o que era o grande bastião da civilização ocidental, o Cristianismo. O que dá na mesma.

Antigamente ninguém negava que o marketing conseguia fazer com que comprássemos as maiores besteiras (coisas totalmente supérfluas e desnecessárias) e coisas até ridículas (roupa nova com aparência de velha, desbotada e rasgada). O que pouca gente parece perceber é que o marketing pode também ser dirigido para nos fazer acreditar que o que é errado é certo, e que o que é certo é errado, e nos levar a mudar os nossos valores e os nossos comportamentos no processo.

Korpelian se concentra no marketing do mal (“marketing of evil”) – isto é, nos processos marquetológicos que nos levam a aceitar como natural ou mesmo moralmente correto aquilo que, de fato, é moralmente errado.

Vários outros autores, principalmente defensores do liberalismo clássico, têm se dedicado a combater o processo inverso – a saber, o processo que “demoniza” valores e comportamentos que nada têm de moralmente errado (embora possam ser condenados por alguns que os consideram ofensivos), para, com isso, promover sua ideologia: aquilo que consideram “o bem”. 

Vale a pena pensar um pouco nisso… Volto logo com o segundo artigo.

Em Salto, 27 de Dezembro de 2015, revisado levemente ainda em Salto, em 8 de Abril de 2017